Meu nome é Fernanda Neute e eu sou viciada em redes sociais. Ou pelo menos, era. Hmm, talvez esteja num momento re-hab.
Eu sou nerd e, desde sempre, adoro tecnologia. Quando eu era adolescente, minha família não tinha muita grana, então nunca tive muitos gadgets, mas preciso dar o crédito ao meu pai que foi muito espertinho e comprou em infinitas prestações nosso primeiro computador em 1994.
Mesmo sem internet, eu passava horas fuçando em tudo. Aprendi fazer planilhas com várias funções e até apresentações de PowerPoint, mesmo não fazendo a menor ideia de para quê se usava aquilo na época.
Logo veio a internet. E com ela o ICQ, o MSN Messenger, o Google e a primeira rede social da minha vida: o Orkut! Eu só tinha um contato, o amigo que me convidou, até eu convencer a minha melhor amiga a entrar também porque era a coisa mais legal do mundo e eu já tinha até uma comunidade da Barbie (que depois, se tornou a maior sobre o tema).
Fui umas das primeiras a aderir ao Facebook, Twitter e passei a entrar para toda e qualquer rede social que alguém criasse, pelo menos para saber como era.
Hoje em dia eu sou bem ativa no Facebook, Instagram, Snapchat e Pinterest e continuo ligada em tudo o que vai aparecendo.
E vamos combinar? Quem não usa redes sociais hoje em dia?
Eu estava tão acostumada a passar o dia todo nas redes sociais que nem me dava mais conta do quanto tempo isso consumia da minha vida e acabava atrapalhando a minha rotina diária.
A coisa ficou séria quando, recentemente, eu voltei a ter aquela sensação que eu tinha quando trabalhava 12 horas por dia em uma agência de propaganda: eu não tenho tempo pra nada e não consigo fazer nada do que me proponho. A diferença é que atualmente eu não tenho um trabalho fixo, então, como isso pode ser possível?
Foi lendo um um livro maravilhoso, chamado Essencialismo, a disciplinada busca por menos, de Greg McKeown, que me caiu a ficha. O autor defende que devemos identificar o que é vital e eliminar todo o resto da nossa vida, para que possamos dar a maior contribuição possível àquilo que realmente importa.
BINGO! Essa sensação de falta de tempo voltou porque eu estava perdendo tempo demais com coisas não essenciais e uma delas eram as redes sociais, fato.
Como eu sou meio radical, decidi me desafiar e ficar 5 dias sem entrar em nenhuma rede social. Apaguei todos os aplicativos do meu iPhone e bloqueei todos os sites no meu laptop, começando à meia noite de domingo para segunda até a meia noite de sexta-feira, ou seja, 5 dias completos!
Eu aprendi muito com essa experiência e gostaria de dividir um pouco com vocês.
Dia 1 | F.O.M.O.
No primeiro dia eu fiquei meio sem rumo. Acordei e instintivamente peguei meu celular, mas não tinha nada para ver. Levantei e continuei meio sem saber como começar meu dia. Senti falta daqueles “minutos” de preguiça passeando pelo meu feed antes de levantar porque eles me ajudam a despertar.
Durante o dia fiquei pensando em tudo o que eu estava perdendo e tive certeza de que o meu FOMO foi o maior impulsionador para o meu vício em redes sociais.
Quando eu saí do Brasil eu queria ter certeza de que eu não estava perdendo nada do que estava acontecendo na vida dos meus amigos e da minha família. Ativei todas as notificações para saber quando alguém importante para mim postava algo.
Como os meus primeiros 8 meses foram na Ásia e os meus horários eram mais flexíveis pela primeira vez na vida, se tornou um hábito acordar e imediatamente olhar todas as redes antes mesmo de levantar da cama. Queria saber tudo o que tinha acontecido enquanto eu dormia. O problema é que hábitos são muito difíceis de quebrar e o que era uma olhadinha se tornou 1h30 sem que eu percebesse.
Dia 2 | Notificações
No segundo dia já foi mais fácil. Em vez de pegar meu celular eu decidi ouvir um livro por 20 minutos antes de levantar. Isso foi muito legal! Usei os “minutos da preguiça” que eu gosto de passar na cama antes de levantar para aprender alguma coisa.
No fim do dia vi que meu iPhone ainda tinha, pasmem, 78% da bateria carregada no dia anterior. Isso mesmo! O que acaba com a bateria são as notificações e as milhões de vezes que abrimos para checar emails, mensagens e etc.
Aliás, eu não fazia ideia do quanto as notificações acabavam com a minha produtividade. Além do FOMO eu também tenho TOC. Toda vez que eu vejo uma notificação EU PRECISO ver o que é. E, se aquela notificação exige uma resposta, EU PRECISO responder naquele minuto, tanto que eu nunca consegui fazer joguinhos com os boys porque respondia tudo na lata.
Só que cada vez que eu paro para ler um comentário de alguém, eu acabo voltando pro feed, aí sou praticamente obrigada a clicar no quiz do BuzzFeed para saber se eu sou expert em pagode dos anos 90, aí eu preciso compartilhar com a minha amiga que eu tenho certeza que vai amar, aí começamos uma conversa no WhatsApp e quando vi, mais 1h do meu dia se foi sem que eu percebesse.
Dia 3 | Inspiração
A gente vê muita celebridade de Instagram/ Snapchat dizendo que adora dividir o dia-a-dia nas redes para inspirar as pessoas. Looks, a rotina de malhação, a barriga de tanquinho, as viagens, os tratamentos estéticos, os eventos, a decoração da casa, os presentes recebidos no mês e etc.
No terceiro dia eu notei que estava me sentindo muito mais inspirada estando por fora de tudo o que acontece nas redes sociais do que enquanto perdia um tempo precioso do meu dia acompanhando as milhões de horas da vida dessa galera no Snapchat, por exemplo.
Isso me fez realizar o quão passiva eu me tornei em relação ao conteúdo que eu consumo. Se tornaram raríssimas as vezes em que eu abro uma janela no meu navegador e digito um site específico. Eu vou seguindo o fluxo e clicando, clicando, clicando naquilo que aparece na minha timeline. Isso é um erro! Primeiro porque eu deveria fazer as coisas com propósito e segundo porque os algoritmos são programados para me mostrar o que é interessante para eles e não o que eu realmente preciso ou quero ver.
No fim do dia eu estava me sentindo tão bem que me surpreendeu o fato de que eu não estava sentindo falta nenhuma de todo o conteúdo que eu passo horas consumindo diariamente.
Dia 4 | Propósito
No quarto dia comecei a pensar no propósito das minhas redes sociais. Por que eu posto o que eu posto?
No Facebook eu posto pouco. Ele funciona mais como a minha agenda da época da adolescência. Lá tem os aniversários dos amigos, bate-papo, álbuns de fotos, recordações, os lugares que eu fui, lembretes de eventos e o feed de notícias que passou a ser uma espécie de RSS para mim.
O Instagram, no começo, me encantou pela parte artística. Eu amo fotografia e seguir gente talentosa, ver fotos lindas que me inspiravam e ensinavam a fotografar melhor era muito legal. Tanto que adoro olhar o meu próprio feed de vez em quando para a ver a evolução das minhas fotos. Lá eu posto tudo o que eu acho bonito.
O Snapchat ganhou meu coração quando eu percebi que eu poderia fazer a coisa que eu mais amo no mundo sem ser julgada: FALAR! Ouve quem quer, interage quem tem vontade e não existe a pressão dos likes.
Ah, os likes… foi a parte que me deixou um pouco desanimada.
Se eu disser que tudo o que eu posto hoje em dia é para mim e que eu não ligo para a opinião dos outros, estarei mentindo. Eu já fui assim. O problema é que depois que várias pessoas que não eram só os meus amigos começaram a me seguir eu travei um pouco.
Ao mesmo tempo que eu me recuso postar algo só porque gera mais likes, eu comecei a me questionar muito sobre a relevância dos meus posts quando eles não tinham muitos likes ou sempre que depois de uma foto, várias pessoas deixavam de me seguir. Não dá pra negar que todos nós queremos ser queridos e receber um pouco de atenção, né?
Depois do detox eu estou tentando não pensar em nada disso. Estou voltando a postar aquilo que eu tenho vontade e que vá me trazer uma lembrança boa no futuro, mesmo que ninguém goste. Se isso inspirar alguém, ótimo, se não, o unfollow está aí para isso, sem ressentimentos!
Dia 5 | Presença
Meu iPhone é uma extensão da minha mão, quase um órgão vital. Não ter o meu celular ali desviando a minha atenção o tempo todo me fez focar muito mais nas atividades enquanto elas estavam acontecendo.
Os momentos de tédio na fila do supermercado ou no metrô, perfeitos pra ficar nas redes sociais, serviram para me fazer voltar a observar o entorno. Parece que não, mas tédio também é ótimo para fazer a gente pensar na vida, coisa que acabamos não nos permitindo já que existe sempre algo disponível online para nos entreter.
Pelos meus cálculos, eu passava uma média de 4 horas do meu dia nas redes sociais. Depois do detox esse número seguramente caiu para 1 hora e meia no máximo.
Algumas mudanças foram fundamentais para diminuir esse tempo:
- Desativei todas as notificações. TO-DAS.
- Passei a escolher os momentos em que eu quero entrar nas redes e o que eu quero ver e não apenas seguir o fluxo como antes.
- Deixei de seguir todo mundo que de alguma forma me faz sentir inadequada, me deixa pra baixo ou não me inspira de um jeito mais significativo.
- Parei de seguir pessoas e conteúdos que viraram paisagem. Sabe aqueles que você não tem mais paciência e acaba passando rápido ou nem presta atenção? Esses 5 dias me ensinaram que cada segundo da minha atenção é mais valioso do que eu imaginava e eu não quero desperdiçar nenhum com o que não é importante.
- Também deixei de seguir pessoas e sites que eu não me identifico mais e até me irritam um pouquinho, mas continuava seguindo por causa daquele “guilty pleasure”, sabe?
Eu continuo amando as redes sociais e, morando em outro país, elas são um excelente meio de me manter perto das pessoas que eu mais amo e até conhecer gente nova, mas foi essencial determinar a importância e o espaço que elas devem ter na minha vida.
E vocês? Qual é a relação que vocês têm com as redes sociais? Me contem nos comentários!
UPDATE: gravei um vídeo sobre o que aconteceu um ano depois desse desafio!