Em outubro, eu participei de uma conferência em Bangkok, na Tailândia, com mais de 200 pessoas do mundo todo. Como sabia que teria muita gente interessada em saber mais detalhes sobre o Brasil, fiz uma apresentação contando para eles como anda nosso país cultural e economicamente.
Enquanto pesquisava notei que uma coisa é certa: o padrão de vida do brasileiro melhorou muito nos últimos anos. Isso se considerarmos os índices de longevidade, educação e renda.
É claro que muito desses números são puxados para cima por causa das grandes cidades e estas, também estão cada vez mais caminhando para o colapso por causa da quantidade de gente e, consequentemente, da falta de estrutura e do trânsito.
“O recente aumento da renda e ascensão da classe média podem indicar melhora na economia, mas não mostram se o bem estar da população evoluiu na mesma medida.” disse o Professor Fábio Gallo quando entrevistado sobre uma nova metodologia que vai calcular o Índice de Bem Estar Brasil que a FGV está trabalhando junto com outros institutos.
Também é notório que, junto com o desenvolvimento da economia, outros problemas começam a aparecer como o individualismo excessivo, os distúrbios de ansiedade e a depressão.
Quando decidi que me mudaria do Brasil para começar esse estudo sobre a felicidade, uma das coisas que eu pesquisei foram os índices de felicidade dos países em que eu tinha algum interesse em passar um tempo. Isso, entre outras coisas, me ajudou a decidir começar pela Ásia. Também me chamou bastante a atenção o fato de o Vietnã, onde decidi morar por 3 meses, ser o segundo colocado nesse ranking.
Conversando com algumas pessoas na época em que tomei a decisão, foi engraçado perceber que muitas delas automaticamente associavam essa “liderança no ranking” ao fato deles provavelmente serem menos materialistas, comunistas, religiosos ou então, vinham com o famoso discurso de que nesses países não tem tanta desigualdade social por causa do baixo apelo ao consumo.
O que eu tenho percebido desde que cheguei aqui é que sim, eles aparentemente são mais felizes. Mas apenas porque eles são menos ansiosos e menos estressados. Eles não estão preocupados com a marca da sua bolsa ou com o carro que você tem. Estão acostumados com um enxame de gente e, mesmo não tendo sinalização e quatro milhões de motos circulando pela cidade, o trânsito anda porque eles se respeitam.
Os vietnamitas são muito orientados para a comunidade e para a família, coisa que o brasileiro costumava ser, mas com o crescimento das cidades isso tem se perdido cada vez mais, principalmente em São Paulo. Além disso, por aqui eles aparentemente aceitam que alguém precisa ser lixeiro, pedreiro ou motorista de ônibus e cada um se contenta com a função que tem e entende que ela tem sua importância para o funcionamento da sociedade.
De uns anos para cá, isso não parece ser o que acontece em alguns lugares do Brasil. Se contentar com a profissão que você tem e com o que você consegue conquistar por meio dela não é mais o suficiente. Na verdade, hoje em dia parece que se contentar com a própria vida é o mesmo que desistir ou fracassar.
Se você nasce pobre e não se torna um adulto bem sucedido ou se não tem uma vida melhor do que a que tinha quando era criança a culpa é sua. Você não deve ter se matado de trabalhar o suficiente, deve ter escolhido o trabalho errado ou não ter estudado o quanto devia. Resumindo, você falhou. Afinal, a fórmula do sucesso é simples, não é? Basta entrar numa boa faculdade, arrumar um bom emprego, se matar de trabalhar para ser promovido e ganhar mais dinheiro. Assim, você vai arrumar uma namorada mais bonita, ter hobbies mais legais, amigos mais descolados e vai ser feliz. Só que na prática, não é assim que a vida funciona e isso é o que acaba enchendo as pessoas de estresse, ansiedade, sensação de inadequação e até depressão.
Para ajudar, nós estamos vivendo em uma era na qual temos acesso ao maior número de informação do que sempre tivemos em toda a história. Qualquer tipo de informação que quisermos estará na tela do nosso computador ou celular em segundos e não dá para negar que isso é sensacional! Mas, quando combinamos a falta de escolaridade e a cultura do consumo excessivo com essa quantidade infinita de informação, temos como efeito colateral uma população exposta a uma infinidade de coisas que vão fazê-la lembrar o tempo todo que ela não é competente o bastante para ter.
Além disso, vai dizer que você não sente uma coceirinha para trocar de carro quando seu melhor amigo compra um carro novo? Ou quando aquela pessoa que trabalha com você diz que vai viajar para a Indonesia, você não começa a pensar que está na hora de a escolher lugares mais exóticos para ir quando tirar férias? Ou quando você vê que sua amiga ficou linda com aquele vestido novo, não quer imediatamente comprar um igual?
A verdade é que nenhum de nós tem a coragem de assumir publicamente que sente esse tipo de “inveja” conscientemente. Mas, infelizmente, isso acontece o tempo todo. O ser humano precisa de referência para mensurar o próprio sucesso ou fracasso e no Brasil, isso parece ser ainda mais forte, pois existe uma busca incansável por ídolos e modelos a serem seguidos. É só olhar para o sucesso das blogueiras de moda e fitness.
Eu só temo que em alguns anos teremos no Brasil uma classe média que, por ter acesso à informação, às maravilhas do consumo e considerar status sinônimo de sucesso, vai acabar endividada, inadimplente e por isso, estressada e infeliz. E, aquele Brasil conhecido por todos os gringos como um lugar de gente leve e desencanada, talvez perca o que sempre teve de mais especial, seu sorriso.
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