Depois de uma chegada bastante atrapalhada à Tailândia que incluiu quase 48 horas de viagem, o prédio que eu supostamente ia morar em Phuket estava sendo praticamente derrubado e uma intoxicação alimentar que me deixou com febre e dois dias na cama, aqui estou eu, postando pela primeira vez do outro lado do mundo!
Por causa desse probleminha no prédio que está passando por uma reforma intensa, tive que ficar um dia inteiro procurando um novo lugar para morar e no caminho fiz uma visita a um ponto turístico bem interessante aqui em Phuket: O Grande Buddha, tipo um “Cristo Redentor” da cidade.
Quando eu decidi fazer esta mudança no meu estilo de vida e começar a viajar para estudar e entender mais sobre a felicidade, muita gente veio me perguntar se eu estava infeliz com alguma coisa, se queria fugir de algo, alguns diziam que entendiam quem se muda do Brasil porque não dá mais para viver nesse país, ou pelo fato do meu namorado ser americano, se eu estava me mudando por causa dele.
A resposta para todas essas perguntas foi não. Eu sempre fui muito feliz com o emprego, casa, família e amigos que eu tinha no Brasil. Aí você pode perguntar: Ah, até parece que você não tinha problemas, né? Sim, vários! Mas eu sempre acreditei que nós somos responsáveis por resolver as coisas ou mudar o que nos faz infeliz para que não nos atrapalhe mais. Apenas reclamar ou tentar fugir do problema não funciona.
E foi isso que me fez sair para o mundo. Não foi para tentar encontrar a felicidade em outro lugar ou fugir de algo que me incomodava, mas sim, viver de um jeito que eu pudesse prestar mais atenção no que está acontecendo em volta, para que cada lugar que eu passasse exercesse sua influência em quem eu sou hoje ou me fizesse ser alguém melhor amanhã. Não foi à toa que eu escolhi a Ásia para começar.
Eu não sou religiosa, mas sempre me interessei muito pela filosofia budista, não como religião, mas como filosofia de vida mesmo.
O Budismo
“O segredo da saúde mental e corporal está em não se lamentar pelo passado, não se preocupar com o futuro, nem se adiantar aos problemas, mas viver sábia e seriamente o presente.”
-Buddha
Depois da visita ao Grande Buddha, fiquei curiosa para saber ainda mais sobre essa religião que é tão forte aqui na Tailândia e de tudo o que encontrei, acho que o que melhor resume são as quatro nobres verdades sobre o sofrimento inerente à vida que são a chave para a felicidade:
1. Dukkha: O sofrimento existe para todos.
Para que a gente reconheça a felicidade, precisamos passar pelo sofrimento. Ninguém vai passar pela vida impune a doenças, envelhecimento ou morte, seja você rico ou pobre, seja na sua vida ou na das pessoas que você ama. Sofremos pelo que não temos e quando conseguimos, sofremos pelo medo de perder. Tudo na vida é transitório e um dia vai mudar, por isso o desapego é fundamental.
2. Samudaya: O sofrimento tem suas causas.
Muitas coisas causam o sofrimento: orgulho, inveja, ciúme, desejo, apego, carência, raiva, medo e uma lista que pode ser infinita. Todas essas causas vem de expectativas não alcançadas. O budismo diz que você deveria meditar, entender o que causa seu sofrimento e agir na causa. Mas é claro que se fosse fácil o Buddha não tinha virado santo. Tem um texto do Drummond que eu amo e fala exatamente sobre isso: “…Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar…“
Essa é a diferença entre causa e efeito. As pessoas acham que a causa do sofrimento é o trabalho, quando na verdade a causa é a nossa necessidade de ter tempo para fazer coisas que o trabalho nos impede . Mas para fazer tudo o que queremos, precisamos de dinheiro e consequentemente, do trabalho e aí começa todo o sofrimento.
3. Nirodha: O sofrimento pode ser interrompido.
Segundo o budismo você pode cessar o sofrimento se não se apegar a dor que ele causa. Uma coisa é a gente sentir a dor que um acontecimento nos causa, outra é entender que se não há o que ser feito para reverter a situação, não adianta sofrer por ela. Quando meu pai morreu há 6 anos, aos 51 anos, eu decidi que em vez de sofrer ou ficar revoltada eu iria aprender com o que aconteceu (você pode ler mais aqui) e o que posso dizer desde então é que embora tenha doído muito, tudo o que aprendi com isso fez a minha vida ser muito melhor.
4. Magga: O caminho para eliminar as causas do sofrimento.
Quando aceitamos o que é inevitável, como a morte por exemplo, amenizamos o sofrimento. Mas não adianta aceitar racionalmente se emocionalmente continuamos sofrendo. Aceitar não é se acomodar ou fazer de conta que nada está acontecendo, mas sim o primeiro passo para a compreensão e a sabedoria, consequentemente para a felicidade.
Não sou nem de longe a pessoa mais indicada para falar sobre budismo, mas o que percebi é que inconscientemente eu já aplicava muito dessa filosofia à minha vida e acho que posso dizer que isso sempre me fez sofrer muito menos pelas coisas que não tinham jeito.