Eu amo moda. Acho que é um dos assuntos que eu mais gosto e, um dos meus maiores sonhos ainda não realizados foi nunca ter trabalhado com nada relacionado a isso. Mas, apesar dessa paixão, eu nem sempre tive uma relação saudável com a moda.
Na adolescência, eu passava horas folheando a revista Capricho, olhando todas as roupas e anúncios de tudo o que eu não podia comprar. Também adorava assistir Confissões de Adolescente (quem lembra?) e ficar babando nos looks superdescolados das meninas.
Quando arrumei meu primeiro emprego, a minha lista de desejos era tão grande que nem se eu trabalhasse o ano todo só para comprar o que eu queria eu daria conta.
Desde o meu primeiro salário foi assim. Dia do pagamento era uma festa! Eu já saía de casa com a minha listinha para escolher qual seriam as compras daquele mês. Voltava para casa cheia de sacolas e radiante. Até hoje, tenho o hábito de provar tudo o que eu compro de novo quando eu chego em casa.
Para mim, escolher uma roupa era tão divertido quanto sair. Se eu tivesse um compromisso no sábado eu ficava pensando nas minhas possibilidades a semana toda e aproveitava a deixa para dar uma passadinha no shopping e comprar uma peça nova. Aliás, shopping sempre foi passeio e comprar uma espécie de terapia.
Depois de alguns anos acumulando coisas, eu percebi que muitas das peças que eu comprava eram usadas pouquíssimas vezes. Não fazia sentido ter tanta coisa e, por isso, eu passei a doar. Ver pessoas usando as minhas roupas me fazia tão feliz quanto comprar, por isso, doava quase tudo o que não usava mais para abrir espaço para coisas novas entrarem.
Sempre que programava uma viagem, eu passava os meses que antecediam fazendo a minha lista, escolhendo tudo o que eu ia comprar como se fosse parte do passeio. E, foi justamente na volta de uma viagem que eu fiz com 3 amigas que a minha ficha caiu.
Eu voltei para casa com 2 malas além da que eu tinha levado e gastei mais com roupas do que com toda a viagem. Me senti a pessoa mais feliz do mundo achando que eu tinha feito excelentes compras.

Depois de 6 meses, notei que mais da metade das roupas tinham sido usadas uma única vez. UMA. Algumas roupas me arrependi de ter comprado no minuto que eu cheguei em casa e NUNCA usei. Algo estava errado.
As roupas sempre me fizeram tão feliz, porque agora eu sentia esse profundo arrependimento por todas as compras que eu tinha feito?
Acho que, inconscientemente, eu comecei a perceber o quanto eu estava desperdiçando meu dinheiro, meu tempo e minhas viagens, além de muitas roupas novas e caras.
Comprar é uma delícia, mas mais importante do que a roupa que a gente veste é a vida que a gente vive dentro das roupas. Se eu estava gastando a mesma quantidade de dinheiro que era preciso para fazer uma viagem com roupas que eu não estava usando, eu estava deixando de fazer uma viagem a mais todos os anos ou até mesmo deixando de investir em coisas mais importantes como o meu bem-estar, concordam?
A verdade é que eu comprava por compulsão e não por necessidade. Comprava para me recompensar, para me encaixar em um determinado grupo. Além disso, gostava de ler blogs e revistas de moda atrás do que eu não tinha e “precisava” ter.
Eu tinha todos os “must have” da estação, mas estava sempre precisando de algo, porque não avaliava meu armário e minhas reais necessidades antes de comprar. E, da mesma forma que comprar coisas novas me deixava feliz, não comprar o que eu queria me deixava infeliz.
Eu e a moda, a moda e eu
A minha decisão de mudar os meus hábitos e não comprar mais roupas por impulso aconteceu em 2011. Para continuar firme eu deixei de seguir todos os blogs que eu acompanhava diariamente, cancelei as assinaturas de revistas e cortei drasticamente as minhas visitas ao shopping.
Quando fiz isso, fui obrigada a me reconectar comigo mesma e descobrir qual era o meu estilo pessoal sem essas referências todas. Foi o meu primeiro contato com o autoconhecimento.
Depois dessa rehab, voltei a buscar referências, mas com um olhar completamente diferente. Em vez de fazer lista de desejos com aquilo que faltava no meu armário, eu passei a fazer uma lista das coisas que eu já tinha e buscar inspiração para o melhor uso daquelas roupas (alô Pinterest!).
Essa nova forma de pensar também me ajudou na hora de virar uma nômade digital, já que eu tinha acostumado a viver com menos e minha mala deveria ter um pouco de tudo sem ultrapassar 23 Kg.
Desde então, minha mala é meu guarda-roupa e eu nunca estive tão feliz com as roupas que eu tenho. Tudo o que eu carrego comigo eu amo e uso muito! Aprendi a ser minimalista, a exercitar a minha criatividade e investir em peças de melhor qualidade, pois já que eu compro muito menos, elas precisam durar mais.
Isso quer dizer que eu não compro mais nada? Absolutamente não! Compro coisas muito mais caras do que antes, inclusive. Só que agora, compro com base na minha real necessidade e não porque vi última edição da VOGUE ou no Instagram de uma blogueira famosa.
Antes, eu tinha 5 vezes mais coisas e estava sempre com a mesma roupa e precisando de algo. Hoje, tenho muito mais prazer em me vestir porque sei que cada dia é uma oportunidade para criar uma combinação diferente com as poucas e boas roupas que eu tenho e, por isso, estou sempre bem vestida e feliz com as minhas escolhas.
E você? Qual é a sua relação com a moda? Me conte um pouquinho nos comentários!
As imagens são da ilustradora Joana Faria que cedeu as ilustrações para este post. Você pode conhecer mais do trabalho dela no seu BLOG ou no Etsy.