Por muito tempo, a minha vida era sempre igual nessa época do ano.
Meus clientes e chefes ficavam desesperados para cumprir suas metas e entregar os resultados prometidos, o que transformava a minha vida um verdadeiro inferno, já que as metas deles também eram as minhas.
O trânsito em São Paulo ficava 20 vezes pior por causa da decoração e das compras de Natal e ir para qualquer lugar exigia uma boa dose de paciência.
Eu estava esgotada de trabalhar e contando os minutos para o ano acabar.
Ah, também tinha o dezembro festivo (mais conhecido como confraternizações) e essa parte era a mais legal!
No fim de novembro começava a contagem regressiva para a libertação: o tão sonhado e aguardado recesso de fim de ano.
Na época, eu me achava uma pessoa de muita sorte. Eu trabalhava em uma agência que recompensava todas as horas extras que trabalhávamos de graça com dias de folga que não eram descontados das nossas férias.
A ansiedade para garantir a minha viagem de Reveillon era tamanha que eu planejava com 6 ou 7 meses de antecedência, já que nessa época do ano tudo custa 3 vezes mais caro do que normalmente.
Mas, não era só no fim do ano que isso acontecia.
Eu também passava longos períodos desejando que os dias de trabalho acabassem o mais rápido possível e contando cada minuto para os dias em que eu seria verdadeiramente feliz: as férias.
Quando as férias acabavam, a primeira coisa que eu fazia, antes mesmo antes de voltar ao trabalho, era planejar a minha próxima viagem.
Essa foi a forma que eu encontrei de fazer os dias passarem mais rápido e ter sempre algo para esperar. Eu esperava 330 dias acabarem para viver a vida que eu gostaria nos 35 dias que eu queria que nunca acabassem.
Para mim, isso era completamente normal e me sentia a pessoa mais esperta do mundo por sempre estar com as férias marcadas!
Também sentia um certo prazer quando as pessoas do meu trabalho arregalavam os olhos e diziam: “Mas você vai viajar de novo? Quantos dias de férias você tem por ano?”
Demorei para entender que ao esperar os dias passarem eu estava desperdiçando grande parte da minha vida. Que vida profissional e vida pessoal são a mesma vida e não dá para ser genuinamente feliz separando e gostando apenas de uma parte.
Quando eu parei de achar isso normal, mudei completamente o meu estilo de vida, a minha forma de trabalhar e passei a valorizar até as coisas mais simples que acontecem no meu dia, eu entendi que a verdadeira felicidade está nos momentos que não queremos que acabem.
Faz um ano que eu acordo confusa sobre qual é o dia da semana. Que eu não sei o que é esperar pela sexta-feira ou que só percebo que é feriado quando tudo está fechado em um dia que não deveria estar.
E só hoje, percebi que estamos no fim de novembro e pela primeira vez na vida eu não estou esperando o ano acabar. Aliás, para ser honesta, este ano foi tão maravilhoso que eu estou com pena que ele acabe.
Esta, sem dúvida, foi a maior prova de que hoje eu sou muito mais feliz!
O conceito desse texto foi inspirado pela palestra do Professor da USP, Clovis de Barros Filho.