Antes de pedir demissão para viajar, eu era conhecida como a pessoa que mais tirava férias na agência que eu trabalhava. Mas, nem sempre foi assim.
Quando eu estava na escola, até mais ou menos a 5ª série eu detestava as férias. Acho que eu era a única criança que preferia ir para a escola em vez de passar 2 meses sem fazer nada. Aliás, esse era exatamente o motivo pelo qual eu não gostava. Eu nunca tinha nada para fazer, nunca viajava, não tinha muitos brinquedos, TV a cabo e a minha vida na escola era muito mais cheia de emoção do que os dias que eu passava em casa.
No começo da adolescência isso mudou um pouco. Embora ainda não viajasse, eu já podia sair sozinha para ir até a casa das minhas amigas e passávamos o dia conversando ou andando pelo bairro na esperança de cruzarmos com o menino que a gente gostava jogando bola ou andando de skate na rua. Quando isso acontecia, ganhávamos o dia!
Aos 16 anos eu comecei a trabalhar e, entre estágios (que na época não davam direito a férias) e mudanças de emprego, eu não soube o que eram férias, tipo férias mesmo até os 25, quando fui à Europa pela primeira vez.
Desde então eu fiquei obcecada pelas minhas férias. Para mim, era a única razão para acordar cedo, ficar no trânsito e engolir sapos quase todos os dias.
As férias eram os 30 dias mais felizes do ano. Logo aprendi que eles rendiam mais se fossem divididos em 2 partes e também não vendia um único dia. Depois que peguei mais prática, também planejava outras viagens em feriados prolongados e já fazia meu calendário no dia 2 de janeiro.
Mas, toda viagem tinha um fim e com ele vinha uma depressão que parecia tomar o lugar de toda aquela felicidade dos últimos dias. Tinha vontade de chorar só de pensar que seriam mais 6 longos meses esperando pela próxima (que a esta altura já estava até planejada).
Quem nunca voltou de férias com uma tristezinha no coração, vai?
O primeiro dia de trabalho era sempre o pior. Do caminho eu já ia pensando: “Por que São Paulo é tão feia e tem tanto trânsito? Se eu morasse em Londres com certeza não precisaria ter carro. Imagina ir trabalhar todos dias caminhando por aqueles jardins lindos e praças de Paris? Ai que delícia seria morar em Madrid. Amsterdam é tão civilizada, todo mundo fazendo tudo de bicicleta na maior paz. Buenos Aires é tão barata…”
Quantas vezes, depois de passar alguns dias em uma cidade, não pensamos como seria incrível morar lá?
Todos os lugares onde a gente passa apenas alguns dias parecem ser perfeitos. Pelo menos, era essa a impressão que eu tinha. A gente até imagina que tenham problemas, mas geralmente conhecemos o que as cidades têm de melhor e tudo parece funcionar com perfeição.
Faz 1 ano que eu estou vivendo em diferentes cidades de vários países do primeiro ao terceiro mundo, e recentemente, fiz uma visita curta a São Paulo para rever minha família e meus amigos. O fato de estar morado fora e visitado a minha cidade como turista me fez chegar a uma conclusão: eu estava sendo enganada pelas minhas férias. Quer saber por que?
Nas férias, nossa mente está livre de obrigações.
A melhor parte de se estar de férias é poder esquecer todas as nossas obrigações. Nos planejamos para que, naquele período, não seja preciso pensar em nada que não faça parte dos nossos tão esperados dias de folga. É verdade que tem gente que demora alguns dias, mas eu confesso que eu me desligava no elevador do escritório. No dia seguinte era como se eu nem tivesse um trabalho. Essa sensação por si só já faz aqueles dias serem mais especiais do que os outros, os quais a gente tem 435 coisas para pensar e se preocupar.
Nas férias, nossos horários são flexíveis.
Ninguém precisa acordar as 7h e pegar o metrô lotado quando está em Nova York passeando, certo? Qualquer metrópole vai ter um metrô absolutamente lotado nos horários de pico. Por isso mesmo, cidades com um enorme fluxo de turistas, como Londres, vendem passagens mais barata fora desses horários. Nossa sensação é que tudo é mais organizado e vazio porque não estamos competindo com quem vive na cidade.
Durante a minha visita à São Paulo eu fiquei sem carro. Eu sei que muita gente reclama (com razão) do transporte público da cidade, mas vou te dizer uma coisa, fora do horário de pico ele é tão bom ou até melhor do que de muitas cidades onde eu já estive. É limpo, organizado e os novos corredores são muito eficientes para quem anda, claro, de ônibus.
Eu fiquei hospedada nos Jardins, minha mãe mora na Zona Leste (para quem não conhece SP, é tipo uns 15 Km de distância) e eu andei a cidade toda (distâncias longas mesmo) de metrô e ônibus com menos de R$ 10 reais por dia. Isso é o equivalente a US$ 4.40 ou €3,30. Com o mesmo valor não é possível pegar nem o metrô ida e volta em Nova York ($2.50 cada) ou Paris (€1,70 cada), por exemplo. Além disso, assim como em outras cidades, São Paulo também tem o passe diário em que você pode andar o dia todo pelo valor de R$ 15. Se eu fosse gringa e não conhecesse os problemas da cidade, sairia de SP elogiando muito o transporte público, além das bicicletas e ciclovias espalhadas pela cidade.
Nas férias, não temos pressa.
É claro que ninguém quer perder tempo quando está viajando, mas raramente estamos com pressa. Isso nos possibilita olhar para detalhes que não vemos quando estamos correndo para chegar no trabalho ou em algum compromisso. Quando estamos viajando, paramos para olhar um artista de rua, coisa que muita gente acha um saco quando eles estão atrapalhado o caminho pro trabalho. Achamos graça em simplesmente sentar numa praça qualquer, observar as pessoas enquanto tomamos um sorvete ou assistimos a um pôr-do-sol.
Nas férias, somos quem gostaríamos de ser.
Eu acho que o maior motivo de sermos tão felizes quando estamos viajando é que, além de conhecermos lugares e culturas que antes só tínhamos ouvido falar ou visto em filmes e de toda a novidade diária, também nos desligamos daquela realidade que nos obriga a fazer tantas coisas que não queremos ou não gostamos. Quando estamos viajando, só fazemos o que temos vontade e isso nos faz sentir, mesmo que por alguns dias, o verdadeiro gosto da liberdade.
Muitos discordam quando eu digo que viajar nem sempre é a solução para os problemas, se não tivermos consciência dos motivos da insatisfação em relação à vida que levamos. O que eu realmente acredito é que o que está dentro da gente é o que influencia toda a experiência que uma viagem proporciona.
Nenhum lugar no mundo é perfeito, mas todos eles parecem ser quando estamos de férias. A prova disso é que até São Paulo, cinza, caótica e fedorenta na opinião de muitos, também pode ser uma cidade maravilhosa quando passeamos como turista.
Vale a pena assistir a este VÍDEO!