PORQUE EU PAREI DE LER LISTAS NA INTERNET

Eu preciso confessar uma coisa (não me julguem): eu não sou fã de listas. Sabe aquelas listas do que as pessoas felizes fazem diferente, dos hábitos das pessoas felizes ou das atitudes que só as pessoas felizes têm? Pois é, não gosto.

Eu sei que vocês devem gostar, aliás quase todo mundo gosta e não há mal nenhum nisso! Mas, eu vou te dizer o por quê EU não gosto.

Eu acho que listas, principalmente quando falam sobre felicidade, apenas apontam um problema ou uma solução pasteurizada sobre o que é ser feliz.

Quando vemos uma pipocar na nossa tela, seja sobre os “22 hábitos das pessoas felizes” ou “9 alimentos que as pessoas saudáveis comem todos os dias”, é quase inevitável clicarmos e lermos pelo menos os títulos #quemnunca?

O problema é que esse tipo de lista geralmente não muda comportamentos. Elas nos fazem pensar sobre o assunto por 5 minutos, contar quantos itens fazemos ou não e chegar a uma conclusão: sou feliz ou ainda não cheguei lá. No momento em que fechamos o artigo, muitas vezes não pensamos mais naquilo.

É claro que eu estou generalizando, assim como as listas fazem, e para muitos assuntos as listas são ótimas. O meu grande ponto aqui é mostrar que embora populares e fáceis de entender, elas não são o melhor ou mais efetivo recurso para gerar mudança ou nos fazer entender o motivo pelo qual somos do jeito que somos.

Por que listas fazem tanto sucesso?

Porque são fáceis de assimilar. Listas organizam as nossas ideias. Não por acaso fazemos lista de compras, lista de tarefas, lista de convidados ou até mesmo receitas, que são listas de ingredientes.

Elas apresentam a informação que precisamos ou queremos de forma prática, organizada e já com uma opinião, poupando nosso cérebro de trabalhar ainda mais. Nosso cérebro por sua vez, está constantemente procurando formas de se poupar. Ele faz isso através dos hábitos que nos fazem ter a sensação de que muitas vezes estamos ligados no piloto automático. Na verdade, estamos mesmo!

É por isso que as listas são irresistíveis. Inconscientemente sabemos que ali tem informação fácil e mastigada, ou seja, menos trabalho. Só que, quando o assunto é o nosso bem estar e a nossa felicidade, as listas mais atrapalham do que ajudam.

Felicidade depende de autoconhecimento e isso não se acha em listas, a não ser que ela tenha sido feita por você.

As listas nos dão direção, nos fazem pensar de forma superficial. Mas, a felicidade não está na superfície e, para irmos fundo, precisamos entender o motivo das coisas, nos fazer perguntas e refletir MUITO sobre quem somos e principalmente, sobre quem gostaríamos de ser. É assim que a gente se autoconhece e faz a felicidade ser uma conseqüência.

Depois que eu comecei essa pesquisa e a escrever no blog, ficou ainda mais evidente para mim o quanto as pessoas estão sempre em busca de modelos para seguir. Seja a dieta ou os exercícios das blogueiras fitness, a marca da roupa das blogueiras de moda, as dicas sobre maternidade da blogueira mãe ou o estilo de vida dos nômades digitais.

Não está errado se inspirar nas pessoas, pelo contrário, o problema está em querer uma resposta pronta, um guia ou um atalho que nos leve rapidamente onde aquela pessoa que a gente admira está. Referências são ótimas para nos ajudar a formar nossas próprias opiniões e não quando são colocadas em forma de modelo a ser copiado.

Quando o assunto é a nossa felicidade, nossas escolhas não deveriam ser baseadas em nenhum modelo alheio. Elas deviam ser uma conseqüência de quem a gente é. E só o autoconhecimento nos leva às escolhas certas, por isso, quando seguimos o que o outro está fazendo só porque ele parece mais feliz que a gente, ou porque a vida dele parece melhor do que a nossa, geralmente acabamos frustrados.

O ser humano limita-se na actualidade a “ter” coisas, mas a humanidade esqueceu-se de “ser”. Este último dá trabalho: pensar, duvidar, perguntar-se sobre si mesmo…
– José Saramago

Também é importante estarmos sempre atentos à forma como mensuramos a nossa felicidade. A escolha das métricas certas é o que determina as nossas ações e consequentemente, nosso sucesso.

Eu confesso que fico muito preocupada quando recebo mensagens dizendo: “Eu estou passando por dificuldades que estão me deixando muito infeliz. Queria poder fazer o que você fez, largar tudo e viajar.”

É claro que eu quero inspirar as pessoas, mas provocando uma reflexão individual em relação à felicidade.

Por uma série de motivos e circunstâncias de vida, viajar era uma das coisas que me faria feliz em um determinado momento. Isso não significa que será o mesmo para vocês e nem que será sempre assim para mim.

Tudo o que eu quero é que cada um dos meus textos ou qualquer outra coisa que eu venha a criar possa provocar uma reflexão que realmente motive vocês a fazerem mudanças, mesmo que pequenas, em suas vidas.

Embora o título sugira, eu não quero te convencer a não ler nenhuma lista! Eu mesma já criei algumas para assuntos específicos. O que eu quero dizer é que assim como o nosso organismo recebe os alimentos, processa, retém o que nos faz bem e descarta o que não serve, deveríamos fazer o mesmo com a informação que chega até a gente. Também é importantíssimo diversificar ao máximo nossas fontes de informação, sejam elas em forma de artigos, histórias, livros, filmes, viagens, conversas profundas de mesa de bar ou, listas! Tempo é igual a felicidade e não devíamos perdê-lo com o que não é útil.

O que nos faz seres humanos é a nossa capacidade de observar, refletir e formar uma opinião sobre o mundo e sobre nós mesmos. Só quando somos capazes de formar nossas próprias opiniões baseadas no que realmente importa para a nossa felicidade é que chegamos à opinião que faz diferença: a nossa.

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