Quando tomei a decisão de pedir demissão e viajar, eu não fazia a menor ideia do que estava fazendo.
Acho que por isso, o ano de 2013 foi tão importante para mim. Foi o ano da mudança, do novo, do desconhecido e de muito aprendizado.
Aí veio 2014. Como se fosse uma nova temporada da minha série favorita. Eu, é claro, estava ansiosa para saber o que iria acontecer. Quem seriam os novos personagens? Quais seriam as novas locações? Era tudo uma grande surpresa.
Nem o meu melhor palpite poderia adivinhar o que eu viveria esse ano. Foram 12 países, 5 continentes, 6 meses vivendo em uma mesma cidade, aprendendo uma nova língua e fazendo novos amigos. Mas também foi um ano de muita incerteza, ansiedade e medo.
Foram muitos aprendizados e, mais uma vez, gostaria de compartilha-los com vocês aqui!
Você só descobre se gosta de algo fazendo.
A primeira vez em que eu ouvi o termo “nômade digital” foi há quase 3 anos. Eu passei meses pesquisando, lendo histórias de pessoas que viviam dessa forma e tentando encontrar uma forma de virar uma também.
Como muitos de vocês, eu não pensava em outra coisa. Eu queria essa vida para mim. Poder trabalhar e viajar quando eu bem entendesse. Ser dona do meu tempo e das minhas vontades.
O que eu não imaginava é que apenas 3 meses depois de começar a viajar eu comecei a sentir que talvez essa vida não fosse para mim. Ao mesmo tempo, eu não queria acreditar ou até mesmo aceitar que eu estava me sentindo daquela forma. Foi então que decidi fazer o primeiro teste e passar 3 meses na cidade de Ho Chi Minh, no Vietnã, ainda em 2013.
Deixei o Vietnã e voltei para a estrada mais uma vez. O que aconteceu? Novamente depois de 3 meses eu estava cansada de viajar constantemente. Fiz um novo teste: 6 meses em Medellin e ao fim desse período, voltaria para a estrada.
Hoje, depois de 1 ano e meio viajando sem ter uma casa para voltar ou nada que não caiba dentro da minha mala, eu posso afirmar que a vida 100% nômade não me faz tão feliz quanto eu imaginei.
Embora seja uma experiência incrível poder estar em vários lugares e conhecer diferentes culturas, eu sinto falta de pertencer a algum lugar, de ter um lar, de ser parte de uma comunidade.
Mesmo quando volto a São Paulo – onde eu ainda considero minha “casa” – eu não me sinto mais confortável já que eu acabo tendo de ficar acampada na casa da minha mãe, de alguma amiga ou até mesmo em hotéis.
Eu nunca saberia disso se não tivesse tentado. Foi só depois de vender tudo e ficar com uma mala viajando de um lugar para o outro que eu descobri que eu gostaria de ter uma casa com um juicer para fazer meus sucos no café da manhã, uma cadeira confortável para trabalhar e a liberdade para viajar quando eu tiver vontade e não porque meu visto vai vencer e eu sou obrigada ir embora, mesmo que tenha amado o lugar e queira ficar.
Eu amo viajar, de férias.
Eu sei que vai parecer confuso, mas a verdade é que faz 1 ano e meio que eu estou viajando e faz 1 ano e meio que eu não tiro férias.
Desde o meu primeiro dia de viagem eu estou estudando, escrevendo e trabalhando. Não existiu um único dia em que eu estivesse totalmente desconectada ou com a cabeça livre como eu costumava estar quando saía férias, sabe?
Como era tudo muito novo, foi difícil encontrar um balanço entre trabalho e vida. Eu nunca deixava de checar meus emails, comentários no blog, Google Analytics ou os jobs que eu tinha de entregar quase sempre sem prazo e acabei ficando online todos os dias, 7 dias por semana, coisa que jamais acontecia quando eu tinha um trabalho das 8h as 19h.
Fins de semana e férias são essenciais para descansarmos a mente, pensarmos na vida com mais calma e renovarmos nossas energias.
Viajar enquanto trabalha é legal porque você pode conhecer vários lugares, mas definitivamente não é férias e eu só percebi isso quando me vi esgotada, física e emocionalmente, depois de 18 meses na estrada tendo tirado muito menos dias de folga do que quando tinha um emprego.
Começar uma nova carreira ou negócio viajando é muito, muito mais difícil do que pintam por aí.
Uma grande parte dos nômades digitais que começaram esse movimento já eram profissionais ou empreendedores independentes da localização onde estavam. O que isso significa? Que eles já ganhavam dinheiro trabalhando remotamente.
Quem está nessa posição, apenas transfere a vida, as despesas e a rotina de lugar. Vão existir ajustes, obviamente, mas nada muito dramático.
Quando você decide começar um negócio novo viajando o tempo todo, a história é bem diferente. Foi o que aconteceu comigo.
Eu me espelhei em casos bem sucedidos, esquecendo que a maioria deles construíram seu negócio 1 ou até 2 anos antes de se mudarem ou começarem a viajar com mais frequência e isso, meus queridos, faz toda a diferença!
Hoje é fácil perceber que eu realmente não tinha a menor ideia do que eu estava fazendo. Mas, nem que eu tivesse planejado por meses eu poderia prever tudo isso.
Talvez se eu tivesse pedido demissão para tirar um sabático eu teria voltado para São Paulo para trabalhar com propaganda. Ou, se eu tivesse começado um negócio em São Paulo, ele crescesse rápido e me impedisse de viajar. Quem sabe o que poderia ter acontecido?
Mais do que tudo, eu aprendi que tão importante quanto planejar é AGIR. Tentar tudo, quantas vezes forem necessárias. Fazer testes, mudar a rota e, se precisar, mudar de novo. Só assim sabemos o que é melhor, mesmo que o caminho seja longo e difícil.
O ano de 2014 me ensinou mais sobre a vida, sobre as pessoas e sobre mim mesma do que qualquer outro ano da minha existência.
É justamente por isso, que eu termino esse ano com a certeza de que quanto mais eu aprendo, menos eu sei sobre a vida e eu quero que seja assim para sempre!