O QUE ACONTECE DEPOIS DE UM ANO FORA DA ROTINA DAS 9H AS 18H?

Em 1999, quando entrei na faculdade, meu sonho era trabalhar em qualquer uma das 10 maiores agências de propaganda do Brasil.

Eu ficava imaginando como seria passar o dia naqueles escritórios modernos e convivendo com pessoas bonitas, bem vestidas, inteligentes e criativas trabalhando em seus computadores Macintosh. Publicitários, naquela época, eram tipo deuses para mim!

Meu primeiro emprego na área foi em 2000. Eu era assistente de arte em um estúdio com 3 pessoas, onde eu era a terceira! Não demorou para eu perceber que criação não era a minha praia. Eu queria falar com o cliente, entender os problemas, os números, participar da estratégia e das reuniões vestindo roupa “social”.

Depois de alguns anos, eu me tornei esta pessoa e fui construindo exatamente a carreira que eu sempre quis ter. Até o dia em que eu tomei a decisão mais louca e assustadora da minha vida: pedir demissão.

No dia 30 de junho de 2013, eu entreguei o meu crachá ao RH depois de 8 anos trabalhando em uma das 10 maiores agências do Brasil, do jeitinho que eu sonhei. Era o último dia em que eu passaria o meu crachá pela porta e teria uma rotina de trabalho das 9h as 18h, pelo menos por um período.

É engraçado como muitas vezes idealizamos algo e temos certeza de que aquilo nos fará felizes. Porém, só sabemos de fato como vai ser e como vamos nos sentir no dia em que conseguimos.

Em 1992, o tenista Andre Agassi ganhou o seu único torneio de Wimbledon, conquista importante para que ele conseguisse o difícil feito de vencer todos os 4 torneios do Grand Slam de tênis. Após a vitória ele fez a seguinte declaração.

“Agora que eu ganhei, eu sei o que apenas algumas pessoas no planeta tem a oportunidade de saber. Que uma vitória não nos faz sentir tão bem quanto uma derrota nos faz sentir mal, assim como a felicidade da vitória dura bem menos do que o gosto amargo da derrota.”

Foi assim com a minha carreira publicitária. Quando eu estava exatamente onde sempre quis estar eu percebi que eu era bem menos feliz do que eu achei que seria. E, depois da conquista, decidi que precisava experimentar algo novo e realizar novos sonhos.

O curioso é que, assim como eu fui muito feliz fazendo o que eu gostava, mas não o suficiente para continuar fazendo, eu sabia que “largar tudo” e viajar o mundo também não era o que me faria feliz para sempre.

Um dos meus maiores aprendizados tanto durante a viagem, quanto com a pesquisa foi o de que até as coisas mais legais do mundo têm vantagens e desvantagens. Nesse caso, todo mundo que trabalha das 9h as 18h sabe quais são mas, como é a vida quando não temos mais essa obrigação? Eu te conto!

VANTAGENS

Tempo: sem dúvida a maior vantagem de todas! Antes, eu acordava as 7h mas, por trabalhar quase sempre até muito tarde e perder muito tempo no trânsito, eu acabava indo pra cama as 2h da manhã para poder fazer tudo o que eu queria. Acabava dormindo pouco, estava sempre cansada e com a sensação de que não conseguia fazer nada. Hoje, acordo as 8h sem despertador e, como não fico no trânsito e consigo controlar o meu tempo, eu vou para a cama à meia noite e raramente estou cansada.

Flexibilidade: não só de horários que é o mais óbvio, mas também de saber o que funciona melhor para o meu ritmo. Eu sempre achei que eu fosse uma pessoa noturna mas, sem a obrigação de ter de acordar cedo, eu percebi que eu sou muito mais produtiva pela manhã e que meu problema era que eu estava sempre cansada por dormir pouco. Além disso, os fins de semana deixaram de ser uma necessidade, já que o tempo é melhor aproveitado e distribuído durante a semana.

Saúde: eu tenho sinusite crônica. Quando morava em São Paulo, pelo menos uma vez a cada 2 meses eu tinha uma crise e precisava tomar antibióticos. Ficava rouca, com o nariz entupido e tinha dores de cabeça fortíssimas. Faz exatamente um ano que eu não tenho absolutamente nada. Morei em cidades extremamente poluídas na Ásia e não tive uma crise sequer. Não sei dizer quais eram as causas, mas com certeza o fato de não me estressar como antes ajudou muito.

Bem-estar: eu sempre reclamei por não ter tempo de ir à academia. O meu problema na verdade, não era bem a falta de tempo, mas a prioridade que eu dava ao tempo. Eu tinha tantas outras coisas que julgava mais importantes para fazer que a academia nunca entrava na lista. Agora que eu consigo controlar o meu tempo de acordo com as minhas necessidades, coloquei a academia no meu dia-a-dia e isso também contribuiu para que eu me sentisse melhor e mais disposta.

Simplicidade: eu aprendi que a simplicidade tem mais a ver com as nossas escolhas do que com dinheiro. Em São Paulo, eu tinha mil roupas e estava sempre preocupada com o que vestir, fosse para uma reunião importante ou para uma balada no fim de semana. Por sofrer de FOMO crônico, queria estar em todos os eventos que me convidassem e sempre saía para conhecer os lugares badaladinhos. Hoje, eu tenho apenas uma mala com roupas para todas as ocasiões e estações do ano. Uso a mesma roupa em todas as baladas, mesmo que vá encontrar as mesmas pessoas de sempre.

Nós não fazemos ideia do quanto tempo perdemos escolhendo roupas, nos deslocando de um lugar para o outro, ficando em filas desnecessárias só para poder estar naquele lugar que está todo mundo comentando, seja uma exposição, um restaurante ou uma balada… Quanto mais simples é a nossa vida, mais fácil é viver.

DESVANTAGENS

Procrastinação: quando nossa rotina é definida pelo trabalho das 9h as 18h, acabamos tendo horário para entrar, almoçar, sair e encaixamos outras atividades nos buracos. Quando não se tem horários definidos é muito fácil se perder e deixar tudo para amanhã, inclusive coisas bestas como fazer as unhas. Eu demorei mais de 6 meses para encontrar uma rotina que funcionasse para mim. Além disso, depois de 16 anos trabalhando nesse modelo, parece que nosso cérebro é programado para fazer determinadas coisas em certos horários e demora um pouco para ser reprogramado.

Disciplina: quando somos donos do nosso tempo a culpa dele ser perdido é nossa. É muito fácil ser improdutivo quando trabalhamos por conta própria ou, no caso dos que optaram por fazer isso viajando, estamos mudando de cidade o tempo todo. Sem contar que podemos acabar trabalhando ainda mais do que antes já que não existe uma separação tão distinta do que é dia útil e fim de semana.

Produtividade: ou falta dela. Quando tudo é novo e desconhecido, é muito fácil nos distrairmos e perdermos o foco já que os lugares nos convidam a fazer tudo, menos trabalhar. Isso vale para quem apenas optou por trabalhar em casa em vez de viajar. Também não é fácil ser o próprio chefe e gerenciar o próprio trabalho quando não existe uma cobrança externa.

Sociabilidade: eu sou uma pessoa extrovertida. Muita gente acha que extrovertido é aquele que não é tímido, mas não é bem isso. Uma pessoa extrovertida é sim comunicativa e sociável, porém tende a ser ansiosa por causa da sua necessidade de comunicação. A extroversão é uma característica típica das pessoas mais ativas e que se satisfazem quando estão no meio de um grupo, utilizando o mundo externo como um recarregador das próprias energias. Para pessoas como eu, não fazer parte de um ambiente corporativo é complicado. Eu gosto de trocar ideias, de ajudar os outros a trabalharem e de liderar pessoas. Por isso, senti uma necessidade enorme de criar algo em que eu possa interagir, como é o caso do blog. Também tive de encontrar grupos de discussões e outros empreendedores que trabalham dessa forma para poder satisfazer essa necessidade de comunicação que eu tenho. Para introvertidos, isso pode ser uma vantagem, mas para mim definitivamente não é.

Instabilidade: não só de trabalho, mas também financeira. Foi muito difícil lidar com a falta de um salário fixo e com o fato de que se eu não trabalhar eu não ganho. Isso aumentou a minha ansiedade e ainda é motivo de preocupação constante.

Ainda assim, exatamente 1 ano depois, eu ainda acho que esta foi uma das melhores decisões que eu tomei na minha vida.

Mesmo que um dia eu volte a trabalhar em uma agência, cumprindo horários como todo mundo, a minha vida não será como antes. Essa experiência fez com que eu aprendesse a valorizar o meu bem mais precioso: o meu tempo.

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