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PORQUE TER SÓ UMA MALA ME FEZ MAIS FELIZ

Eu amo moda desde que me conheço por gente. Minha mãe conta que aos 2 anos de idade eu já queria escolher minhas próprias roupas e sabia direitinho o que combinava com o que.

Os anos passaram e o meu gosto pela moda só aumentou. Tinha coleções de sapatos e bolsas, roupa que não acabava mais e, conforme o meu salário aumentava, o valor das roupas aumentava na mesma proporção.

Como sempre morei em casas pequenas, fazia muitas doações, mas ainda assim tinha um guarda-roupa abarrotado de coisas e ficava super feliz quando comprava e vestia uma roupa nova.

Sempre acreditei que roupas são parte da nossa identidade. A forma com que a gente se veste diz muito sobre nós, sobre quem somos e qual grupo fazemos parte. Até mesmo o fato de não se ter um estilo ou não ligar para moda, também acaba sendo uma forma de se expressar.

Por isso, pensar em viver só com uma mala por tanto tempo me aterrorizava tanto quanto o fato de pedir demissão e ficar sem trabalhar.

Como eu sabia que queria ser nômade por um tempo – e não apenas tirar um ano sabático – pensar em passar anos sem acumular nada parecia impossível.

Junto com a minha decisão de viajar, uma coisa inesperada aconteceu. A casa que eu morei quase a vida toda e onde minha mãe ainda morava precisou ser colocada à venda.

Como eu não tinha um apartamento próprio, lá era o único lugar onde eu poderia deixar as minhas coisas me esperando para voltar. Mas, depois desse acontecimento, essa não era mais uma opção. Eu teria de deixar o Brasil e todas as minhas coisas para trás, pois não era justo causar mais um transtorno para a minha mãe na minha ausência.

Claro que eu poderia ter alugado um depósito mas, além de não querer gastar meu dinheiro com isso, achei que talvez fosse um sinal de ruptura completa com meu estilo de vida “publicitário” e isso poderia ser parte do meu estudo sobre a felicidade. Seria legal entender se essa história de “menos é mais” era mesmo verdade.

Num primeiro momento, parecia completamente impossível condensar tudo o que eu precisava para viver em apenas uma mala. E todos os meus sapatos? E as minhas bolsas? E os vestidos de festa? E as bijouxs? E as maquiagens? Vou precisar dessas coisas em algum momento, não vou? Tudo parecia absolutamente necessário.

Sem contar todos os livros, CDs, DVDs, objetos de decoração que eu tinha trazido de viagens e toda a parafernália que a gente acumula sem perceber.

Comecei o processo de desapego mais de 1 ano antes de fazer a tal “única” mala. Minha primeira atitude foi parar de comprar. Tipo radical mesmo! Depois, separei tudo o que eu tinha por categorias: doação, venda, mala.

Doei muita coisa, muita mesmo e fui vendendo muita coisa durante esse ano todo. Na reta final, organizei um bazar com uma amiga e lá eu realmente coloquei tudo o que eu não levaria na mala.

Quando vi as roupas arrumadas para a venda, uma certa depressãozinha tomou conta de mim.

Não só pelo desapego e porque parte da minha identidade estava indo embora, mas também porque quando vi aquela sala abarrotada de roupas que eu usei uma ou duas vezes, foi inevitável pensar em quanto dinheiro e energia foram gastos sem nenhum propósito e no quanto tudo aquilo estava me impedindo de ser livre de uma certa forma.

A cada roupa que saía, eu me sentia mais perto dessa nova vida que eu estava pronta para começar além de me sentir mais livre.

A mala

Muita gente me pergunta o que eu quero dizer com uma mala e se eu realmente não tenho mais nada mesmo.

Para ser mais específica eu tenho uma mala de 86 litros (essa aí da foto), uma mala de mão e uma mochila pequena para o laptop, câmera e coisas pessoas que você leva no avião.

Somando tudo, minha bagagem tem 30 Kg, até porque a mala grande não pode ter mais do que 23 Kg ou eu teria de pagar excesso em quase todos os voos. Eu tenho roupas, sapatos e acessórios para todas as ocasiões e estações do ano e ela já está 10 Kg mais leve do que saiu do Brasil.

Deixei para trás muitas coisas que acabaram não sendo úteis e outras que se acabaram não foram repostas. Também comprei coisas novas por necessidade e não por vaidade.

Fora o que eu carrego comigo, ainda tenho uma mala na casa da minha mãe, com tudo o que eu não não tive tempo de vender (olha aí um novo bazar!) e não fui desapegada o suficiente para doar, já que são coisas muito novas. De qualquer forma, se fosse preciso dar um fim em tudo de repente, não seria um drama, já que eu vivi muito-bem-obrigada sem tudo aquilo.

A vida com uma mala

Eu nunca tinha me dado conta de quanto tempo, energia e dinheiro um guarda-roupa consome. Viver só com uma mala me fez aprender que não é o guarda-roupa que determina o seu estilo e sim, o seu estilo (de vida) que deveria determinar o seu guarda-roupa.

Eu sempre achei que eram as minhas milhões de roupas que me faziam uma pessoa estilosa. Mas, a verdade é que eu estava sempre com as mesmas roupas. Justamente por não ter tanto tempo, acabava sempre vestindo os mesmos “combos” e toda vez que estava enjoada e queria mudar, eu comprava roupas novas em vez de olhar para o que eu já tinha.

Quando você tem menos, exercita a sua criatividade e percebe que não faz nenhum sentido ter uma peça que só combina com uma única outra e mais nada (coisa que eu fazia muito). Também entende que mais importante do que estar com uma roupa nova é o novo uso que você dá ao que já tem.

Ter só uma mala não significa ser contra o consumo ou virar hippie e sim, comprar com propósito e consciência. Ter apenas aquilo que a gente realmente usa e precisa. E por ter pouco, ter de melhor qualidade.

Continuo sendo uma amante incondicional da moda, mas da moda que empodera as pessoas. Da moda que nos faz sentir confiantes e bonitas e não a que nos escraviza dentro de certos padrões.

“Mais importante que a roupa é a vida que se vive dentro da roupa.”
– Oficina de Estilo

Eu amo essa frase que está no livro Vista Quem Você É, das fofas da Oficina de Estilo porque ela traduz exatamente o motivo pelo qual eu sou mais feliz atualmente do que quando eu tinha um guarda roupa (e uma vida) cheia de coisas.

Hoje, minha maior alegria é saber que tudo o que eu tenho pode ser facilmente empacotado e transportado para onde quer que eu vá. E, se amanhã, minha mala for extraviada ou queimada, é claro que eu ficarei triste, mas a minha vida não vai acabar.

Cena que eu amo do filme Amor Sem Escalas (desculpem, mas não achei com legendas).

Meu maior aprendizado foi o entendimento de que o meu tempo é mais importante e valioso do que qualquer outra coisa. A forma com que eu uso o meu tempo hoje em dia é determinante para a vida que eu levo e perdê-lo para escolher uma roupa entre milhares todas as manhãs não vale a pena.

Também aprendi que eu não preciso estar montada e vestindo a roupa da última tendência de moda para estar bem vestida e bonita, afinal, quanto mais feliz eu sou, mais bonita eu me sinto e menos roupas (e coisas) eu preciso para ser feliz.

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