QUAL É O TAMANHO DA SUA ZONA DE CONFORTO?

Muito se fala sobre sair da zona de conforto ultimamente, não é? Mas, o que isso significa exatamente?

Para muitos significa assumir grandes riscos, pedir demissão do emprego, abrir um negócio, viajar sozinho ou essas coisas que exigem muita coragem, mas também trazem grandes recompensas.

Também sabemos que aquilo que é zona de conforto para uns é um pesadelo para outros, e é por isso que eu te pergunto: você já parou para pensar em qual é o tamanho da sua zona de conforto?

Recentemente, eu passei 10 dias na Tanzânia, um país no sudeste da África. Só para dar um pouco de contexto e história para vocês, a Tanzânia é um dos mais antigos assentamentos humanos do mundo. Lá foram encontrados fósseis dos primeiros seres humanos de que se tem conhecimento.

O país já foi colônia alemã e inglesa e escravizado por muitos anos. Só teve a sua independência decretada em 1964 e as primeiras eleições democráticas só aconteceram em 1995.

Mais de 80% da população ainda é rural. Eles não possuem máquinas e todo o trabalho é feito manualmente o que torna os recursos muito escassos, ainda mais se considerarmos os altos períodos de seca. Por isso, acabam usando inúmeros produtos químicos para conservar as poucas safras.

Isso tudo faz com que a Tanzânia seja um dos países mais pobres do mundo. Seu PIB per capita de US$ 694 é 20 vezes menor do que o do Brasil, 3 vezes menor que o da Índia e 32% mais baixo do que a média dos países africanos. É muito, muito pobre mesmo.

Eles vivem em condições que eram precárias 200 anos atrás no Brasil. Água encanada, tratamento de esgoto e energia elétrica são luxos presentes apenas em resorts ou na casa dos “ricos”, os quais não coincidentemente são políticos corruptos.

O lixo é largado a céu aberto. São pilhas enormes onde as crianças brincam como se fosse um playground.

Mesmo nas mais lindas praias de Zanzibar, uma ilha pseudo-paradisíaca a qual eles tem muito orgulho por ser tão linda, você encontra lâminas de barbear, garrafas quebradas, sapatos, latas, roupas e tudo o mais que você estiver disposto a examinar no meio da areia de algumas praias.

A população não tem a mínima noção de higiene ou condições para comprar produtos. Isso somado à genética e ao calor de 40º C, torna o cheiro de qualquer lugar insuportável.

A comida em geral é ruim. Não porque seja mal feita, mas os ingredientes são de baixíssima qualidade. Os ovos tem uma gema branca, tamanha a precariedade em que são criados os frangos e galinhas. A carne é dura e sem gosto e os peixes escuros.

Por que eu estou contando tudo isso?

Porque mesmo sendo uma viagem incrível, com experiências maravilhosas como Safari, o Kilimanjaro e a Cratera Ngorongoro, a Tanzânia me fez perceber o quanto a minha zona de conforto ainda é grande e quanto é difícil pensar muito além do nosso umbigo.

Segundo o dicionário, conforto significa: atmosfera agradável que rodeia o ser humano. Pode ser ambiente material como também emocional. Ou seja, a zona de conforto é uma demarcação que representa todo o espaço, físico ou emocional, onde a gente se sente confortável.

Eu sempre me orgulhei por não me deixar seduzir pela zona de conforto.

Pedi demissão de um emprego sem ter nenhum dinheiro ou outro emprego em vista no começo da minha carreira. Terminei um relacionamento de 5 anos com casamento quase marcado por não conseguir ver um futuro feliz. Já viajei sozinha sem falar muito bem inglês. Embarquei nessa aventura pelo mundo sem saber muito bem o que iria acontecer com a minha vida profissional. Até que já arrisquei bastante, vai?

Esses são feitos admiráveis para muita gente, mas o que percebi é que mesmo sendo uma pessoa corajosa, eu tomei todas essas atitudes dentro de uma zona de conforto, por menor que ela fosse.

Quando eu não tinha emprego e dinheiro, eu ainda tinha a casa dos meus pais para morar e comer. Quando eu terminei o relacionamento, eu tinha amigas solteiras para passarem tempo comigo. Quando viajei sozinha e quando decidi sair pelo mundo, eu tinha dinheiro suficiente para me livrar de perrengues, pelo menos por um tempo.

Mesmo quando nos colocamos em situações desconfortáveis, estamos sempre pensando em uma forma de continuarmos confortáveis, ainda que não no mesmo nível de antes.

A verdade é que em vez de “sairmos” dessa zona que criamos, nós deveríamos fazer ela ficar menor e menor, até o ponto em que ela é tão pequena que conseguimos nos acostumar e lidar com quase tudo. Mais ou menos assim:

Zona de conforto Grafico

Entrar em contato com essa realidade, ver pessoas vivendo na mais precária condição humana, que não sabem se estarão vivas amanhã por causa doenças ou da falta de comida me fez perceber que a realidade fora dessa zona de conforto que tanto se fala por aí, ainda é infinitamente mais confortável do que podemos imaginar.

Me fez ver que a felicidade maior não está só no prazer das coisas boas, mas principalmente, na superação das coisas ruins.

Depois dessa experiência, eu decidi que pelo menos uma vez por ano eu quero visitar um lugar que me faça sentir desconfortável.

Não quero ir só pelo prazer da viagem, apenas para fazer turismo e aproveitar o que o país tem de melhor, mas pelo aprendizado que só situações extremas e até negativas nos proporcionam.

Eu deixei a Tanzânia com um sentimento de gratidão maior do que eu conhecia. Não só pela vida maravilhosa que eu levo, mas por ser saudável, por nunca ter precisado me preocupar com o que vou comer, por ter podido estudar e por poder ter me dado ao luxo de sair da zona de conforto justamente porque eu tinha essa mesma zona para voltar caso desse tudo errado.

Imagem: Safari na Cratera Ngorongoro, Tanzânia. Arquivo pessoal.

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