Quando eu era mais nova, tipo 17, 18 anos, era inimaginável pensar que alguém demorava mais do que 30 minutos para ficar pronta antes sair de casa em um dia comum.
Eu tinha um cabelo péssimo e cheio de frizz, mas achava que essa era a minha realidade e que deveria me conformar com isso. Tinha espinhas no rosto e achava ridículo usar maquiagem para esconder e, como não tinha muitas roupas, não demorava muito para escolher um look.
Com o tempo, fui adicionando elementos à minha rotina. Começou quando eu entrei na faculdade e decidi cortar o cabelo curto. Descobri que se eu não secasse o cabelo com o secador, ele virava um cogumelo. Desde então, foram raras as vezes que eu saí com os cabelos molhados.
Depois de um tempo comecei um tratamento de pele e era obrigada a usar protetor solar todos os dias. Percebi que se eu usasse uma versão com cor, minha pele ficava mais bonita e menos vermelha do que antes. Mas, se além do protetor eu também passasse um pózinho, o acabamento era melhor. Só que aí, o rosto acabava ficando muito branco. Foi quando descobri o blush!
Sempre tive os olhos pequenos e um dia, ao provar uma máscara para cílios percebi que eles ficavam muito maiores e mais bonitos. E assim, sem que eu me desse conta, o que demorava de 25 a 30 minutos se tornou no mínimo 1 hora de preparação antes de sair de casa.
Hoje, eu acabei de ter certeza de que eu não sou a única! O programa TODAY, da rede de televisão americana NBC fez uma pesquisa com 2.059 adultos acima de 18 anos e 200 adolescentes entre 16 e 17 anos para saber qual é a percepção que eles têm quando o assunto é a própria aparência.
Um dos resultados que me chamou a atenção foi que a média de tempo que uma mulher dedica à sua aparência diariamente é de 55 minutos. Se fizermos a conta, são 335 horas por ano, o equivalente a 2 semanas inteiras gastas para nos prepararmos para encarar o mundo.
Depois de algum tempo morando fora e convivendo com mulheres de outros países, arrisco dizer que esse número deve ser ainda maior no Brasil, já que somos reconhecidas mundialmente pela nossa vaidade, beleza e feminilidade.
Não vou negar que uma das coisas que mais me faz feliz é cuidar de mim e me sentir bem fisicamente, seja em relação à saúde ou aparência. Eu gosto do ritual de passar cremes no rosto e no corpo, de fazer maquiagem, de arrumar os meus cabelos e vestir uma roupa legal, mas nos sentir bem, independentemente do que vestimos ou de toda a preparação, é o primeiro passo para nós também nos sentirmos bonitas.
O contraponto é que a preocupação excessiva com a aparência pode gerar uma sensação de inadequação, ansiedade, depressão e até distúrbios alimentares.
O que essa pesquisa me fez parar para pensar foi se todo esse tempo investido em frente ao espelho é realmente para nos sentirmos melhor, ou porque não estamos felizes com o reflexo que estamos vendo nele.
Segundo a pesquisa, as mulheres se preocupam mais com a aparência do que com as finanças, sucesso profissional, saúde, família ou relacionamentos. Sempre que o assunto é beleza ou idade, 77% das mulheres adultas e 80% das adolescentes reclamam mais do que falam sobre seus pontos positivos. Aliás, quantas vezes você não recebeu um elogio e em vez de dizer “obrigada”, achou uma maneira de ressaltar algum defeito?
Os números também mostram que 59% passam tanto tempo se arrumando mais por causa do julgamento dos outros, do que para se sentirem melhores consigo mesmas, principalmente entre as adolescentes e mulheres até os 34 anos.
Mas agora eu pergunto: será que estamos investindo o mesmo tempo e atenção que damos à nossa aparência em outras áreas da vida que são importantes para nos fazer mais felizes, mais interessantes e, consequentemente, mais bonitas?
Quantas horas por dia dedicamos a um esporte, a ler um livro, assistir a um filme, conversar com uma amiga, estar com a nossa família, a fazer coisas que nunca fizemos antes ou até mesmo a ficar sozinhas pensando na vida?
Em um mundo onde a beleza é manipulada o tempo todo pelo photoshop, por truques de maquiagem e até por aplicativos que corrigem fotos tiradas com o celular, aquilo que é autêntico e genuíno em cada uma é o que vai nos destacar na multidão e nos fazer ser verdadeiramente lindas.
Bora acrescentar “interessância” pras nossas vidas?
Texto escrito por mim para o blog Supremas em fevereiro de 2014, mas continua super atual