Hoje faz exatamente um mês que eu saí de São Paulo para começar esse novo estilo de vida que algumas pessoas entendem como período sabático, mas eu ainda não sei bem o que é e estou tentando descobrir.
Embora tenha passado apenas um mês, posso dizer que já aprendi muitas coisas e que, por mais planejado que esteja, você nunca vai conseguir prever ou controlar o que acontece depois do minuto em que você entrar no avião.
Eu nasci e fui criada em São Paulo e sou totalmente urbana. Eu adoro prédios altos, gente de todo tipo circulando pelas ruas, gosto de moda, maquiagem, balada e sou apaixonada por boa comida. Eu também sempre amei praia, mas nunca fui uma pessoa que sonhava em largar tudo e vender coco na praia, sabe? Também sou daquele tipo que tem medo de sapo, morcego, besouros, baratas… sou alérgica a gato e morro de medo de cachorro!
Por gostar de grandes cidades, sempre que tirava férias viajava para as grandes capitais do mundo. Dessa vez, por ter mais tempo e não ter a urgência dos 20 dias, decidi que queria fazer diferente.
Comecei a viagem pela Tailândia, mas não pela capital Bangkok e sim por Phuket, uma ilha ao Sudoeste do país onde estão (teoricamente) as consideradas praias mais lindas do mundo. Isso fez com que esse primeiro mês fosse (de propósito) uma total desintoxicação da minha vida em São Paulo, e aqui está o pouco que eu já aprendi:
1. Minha mala poderia ter metade do tamanho.
Eu trouxe uma mala de mão, bem leve só com computador, equipamentos e alguns acessórios e uma outra mala grande com roupas e sapatos para todas as ocasiões e estações do ano. Esta foi uma decisão de longo prazo e depois de vender e doar quase tudo o que eu tinha, queria ter uma mala que representasse a minha casa, afinal, ela é tudo o que eu tenho hoje.
Acreditem, perto do que eu tinha em São Paulo eu não trouxe NADA, mas desse nada, ainda poderia ter trazido pelo menos metade.
A grande questão é que quando você não vai trabalhar, você não usa muita roupa. Além disso, você não tem uma vida social como a que você tem quando você está vivendo por um longo período em algum lugar e, por mais que você faça algo diferente todos os dias, as pessoas também vão ser diferentes, e suas roupas serão sempre novas para elas.
2. Não ter um trabalho fixo pode não ser tão excitante quanto parece.
Quando a gente está trabalhando, tudo o que a gente mais quer na vida são as férias. Acho que todo mundo já se pegou sonhando como seria a vida se ganhasse na loteria e não precisasse trabalhar, né? Ou viver como algumas pessoas que eu tenho pesquisado por aí, os nômades digitais, que trabalham enquanto viajam.
Pois é, não dá para dizer nem de longe que seja ruim, mas para uma pessoa que trabalhou 16 anos sem parar, não ter uma obrigação diária é um pouco estranho. Nas primeiras semanas é ótimo, porque você realmente se sente de férias, mas ainda melhor, já que sabe que não terá de voltar a trabalhar. Só que depois de 3 semanas parece que a nossa cabeça automaticamente se prepara para voltar ao trabalho (força do hábito) e não ter um trabalho faz a gente se sentir bem perdido.
3. O mais importante: sabático não é férias.
A ficha de que você não vai voltar a trabalhar cai depois da terceira semana. Fica um misto de alegria sem fim por ter seu tempo todo livre para fazer o que quiser, mas ao mesmo tempo, um frio na barriga porque não vai ter salário no próximo mês, nem no próximo, nem no próximo…
Além disso, quando estamos de férias, tiramos aquelas semanas para nos permitir fazer tudo aquilo que o ano inteiro trabalhando não nos permite fazer. Visitamos todos os lugares turísticos, queremos comer em lugares gostosos com sobremesa e drinks todos os dias, não nos importamos em gastar um pouco mais com algumas bobagens, afinal, estamos de férias!
Pois é, não é isso que acontece quando você está tirando um período sabático. Vão ter dias tão monótonos quanto os dias em que você está trabalhando, só que num lugar diferente. Não dá para viver todos os dias como se fosse férias, fazendo coisas novas e indo conhecer lugares todo santo dia, principalmente se você não tiver muita grana. O segredo está em aprender apreciar esses dias monótonos como um prêmio à aqueles milhares de dias em que você passou 4 horas engarrafado, ou que depois de se matar um final de semana inteiro para colocar um trabalho de pé, alguém desmarcou a reunião.
4. Ter tempo livre não garante que você fará o que não conseguia fazer quando trabalhava.
Sempre que eu via uma bonitona sarada, tipo a Sabrina Sato, meu primeiro comentário era: “É fácil ser assim quando você tem tempo e dinheiro pra fazer as coisas, ou seja, quando o job da sua vida é ser gostosa.” Ou quando aquela amiga que não trabalha fala que não tem tempo pra nada e você pensa: “Se você que não trabalha não tem tempo, imagina eu.”.
O ser humano sempre acha que não faz as coisas porque uma força maior esta impedindo. Isso é uma grande besteira. Tudo na vida são escolhas e dependem de dedicação e disciplina, não importa se você trabalha 12 horas por dia ou não faz nada o dia todo. Se você não tiver dedicação e disciplina para focar nos objetivos que você quer atingir, você nunca vai chegar.
Por que eu estou dizendo isso? Porque meu “sonho” sempre foi poder fazer exercícios todos os dias e mesmo tendo tempo, não mudei em nada os meus hábitos em relação a isso e a culpa agora é toda minha, o que me leva ao último tópico.
5. Quando você não tem ninguém ou nada para culpar, a culpa é toda sua.
A nossa vida é cheia de desculpas e quase sempre os culpados são o trabalho e consequentemente, a falta de tempo que ele nos causa. Quantas vezes você não se pega dizendo: “Estava muito corrido, fiquei presa no transito, não tive tempo, o trabalho me consome, faz anos que não leio um livro, não consigo ir à academia, não consigo seguir uma dieta com essa vida louca…” e por aí vai.
Quando você toma uma decisão como esta, pede demissão e vai viajar, tudo o que você não realiza é puramente sua culpa, já que você é o dono do seu tempo e não tem ninguém te dizendo o que precisa ser feito. Depois de viver uma vida sufocado pelas obrigações é difícil admitir que se algo não está saindo do jeito que você imaginou a partir de agora, a culpa é toda sua.
Algumas pessoas podem pensar que estou dando um olhar negativo para essa experiência tão maravilhosa, mas na verdade é totalmente o contrário. Justamente por ser uma experiência única eu aprendo todos os dias e só o que quero mostrar aqui é que não existe milagre. Não tem praia linda que vai fazer você fugir de todos os seus problemas. É por isso que eu amo essa frase do Gandhi:
“Seja a mudança que você quer ver no mundo.”
Porque não adianta sair para o mundo achando que ele vai mudar o que está dentro de você.